“O silêncio nunca é a melhor opção”
Afirma especialista Stefanie Daltoé sobre sucessão empresarial em encontro
Empresários, sucessores e empreendedores se reuniram, na última semana, para a primeira edição do Café com Legado, promovido pelo Núcleo de Sucessão da Associação Comercial, Industrial, Agronegócio e Serviços de Chapecó (ACIC). O encontro ocorreu na sede da entidade e teve a participação da especialista em sucessão empresarial, Stefanie Daltoé. O objetivo foi criar um espaço de diálogo para compartilhar dúvidas, experiências e reflexões, especialmente sobre um tema que, muitas vezes, é evitado nas conversas do dia a dia.
Stefanie alertou que escolher “não falar sobre sucessão não significa evitar o problema, mas apenas postergar decisões que, inevitavelmente, serão tomadas, seja pelo Judiciário, seja por quem permanecer na empresa, muitas vezes sem conhecimento das reais intenções do fundador. O silêncio nunca é a melhor opção. Não fazer nada nunca é a melhor escolha”, reforçou.
A especialista apresentou dados da PwC e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) que revelam a fragilidade das empresas brasileiras no tema. Segundo as pesquisas, 90% das empresas do país são familiares, mas 72,4% não têm qualquer definição quanto à sucessão da gestão. O cenário se agrava com o passar das gerações: apenas 30% sobrevivem à segunda geração, e só 12% chegam à terceira.
Para ilustrar, utilizou a analogia de um avião: se o piloto faltar durante o voo, cabe ao copiloto assumir os comandos. Mas, se ele não estiver preparado, o resultado pode ser catastrófico. “Na empresa é a mesma coisa. Quando não há planejamento, o risco é de queda”, enfatizou. A convivência diária, por si só, não é suficiente para formar um sucessor. Assim como um copiloto, que pode ter muitas horas de voo ao lado de um piloto, não se torna piloto sem o devido treinamento, um filho também não estará preparado para assumir uma empresa apenas por acompanhar a rotina dos pais, ou qualquer que seja o sucessor. É fundamental investir em formação, desenvolvimento e preparação para que ele se torne, de fato, responsável pelo negócio.
Entre os principais obstáculos para uma sucessão bem-sucedida, Stefanie destacou a resistência do fundador, geralmente motivada pelo apego ao controle e pela dificuldade em dissociar sua identidade pessoal e a da empresa. Soma-se a isso as falhas de comunicação, nas quais expectativas não verbalizadas geram frustrações silenciosas e dificultam decisões importantes.
A ausência de governança, com falta de critérios objetivos e processos claros, também compromete a segurança na escolha dos sucessores. Os conflitos familiares alimentados por disputas antigas e questões não resolvidas, acabam contaminando o ambiente empresarial e dificultando a condução de decisões estratégicas essenciais para a continuidade do negócio.
Uma sucessão bem-sucedida não é um evento isolado, mas um processo que deve começar cedo e se manter contínuo ao longo do tempo. Stefanie frisou a importância de valorizar a harmonia familiar, uma vez que conflitos não resolvidos podem comprometer não apenas as relações pessoais, mas também a sustentabilidade do negócio.
Outro ponto essencial é a profissionalização das relações societárias, separar os vínculos afetivos das decisões estratégicas. A formalização de regras claras, com critérios objetivos e meritocráticos, garante segurança para todos os envolvidos. Investir no desenvolvimento dos sucessores é fundamental para preparar as futuras gerações para os desafios da gestão. Ela também explicou que a sucessão eficiente se apoia em uma tríade essencial: a governança, que define quem decide e como; o planejamento patrimonial, que assegura a proteção dos ativos e a eficiência tributária; e a organização sucessória, que estabelece como e para quem o patrimônio será transmitido.
25/06 • 08h00