Evento destaca a importância de empresas não improvisarem em assuntos de Segurança Psicológica
Gente, Gestão e Resultado reuniu mais de 350 participantes para debater os impactos da nova NR 1 e a urgência da segurança psicológica nas organizações.
“Segurança Psicológica - NR1” foi o tema da última edição do Gente, Gestão e Resultado realizado pelo Núcleo de Gestores de Pessoas da Associação Comercial, Industrial, Agronegócios e Serviços de Chapecó (ACIC), na noite da última quinta-feira (26), no Hotel Kindermann. O evento recebeu a executiva, consultora e conselheira Cynthia Cirillo Jobim, o juíz Marlos Augusto Melek e o médico do trabalho, perito e especialista em medicina legal, Renan Borges, e mais de 350 participantes, como gestores, advogados, empresários, profissionais de recursos humanos, da área da saúde e estudantes.
Cynthia esclareceu a importância da segurança psicológica como um dos principais fatores para a prevenção do burnout nas organizações. “Quando há um ambiente de trabalho saudável, onde os profissionais se sentem seguros, ouvidos, com liberdade para aprender e evoluir, os resultados aparecem. O burnout é justamente a ausência desse cenário”, afirmou.
A executiva explicou que o esgotamento profissional costuma surgir em contextos onde não há espaço para expressão, em que os colaboradores são reprimidos ou enfrentam sobrecarga de trabalho. “A segurança psicológica surge como resposta para esse desequilíbrio. É por meio dela que as empresas podem repensar seus valores e prevenir esse tipo de adoecimento.” A escuta ativa é uma das estratégias mais efetivas. “Ter uma liderança presente e disposta a ouvir mais do que falar faz toda a diferença. Quando a escuta é genuína, é possível compreender o momento de cada colaborador e criar um ambiente mais acolhedor”, frisou.
Ela observou que, em muitos casos, erros no trabalho ocorrem não por má vontade, mas por falta de orientação adequada. “Há pessoas que não perguntam por vergonha, por sentirem que a liderança está distante. Manter um canal aberto de comunicação não exige grandes investimentos financeiros, apenas dedicação e presença por parte dos líderes.”
Melek alertou sobre a realidade de diversas categorias profissionais, como motoristas. Segundo ele, embora a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabeleça jornadas de trabalho, isso não é seguido. “A maioria dos motoristas hoje atua como pessoa jurídica (PJ) ou microempreendedor individual (MEI), sem qualquer limite de horário.”
O magistrado ressaltou que, apesar da fiscalização das mudanças na NR-1 serem adiadas para o próximo ano, a norma já começou a ser aplicada de forma orientativa, o que exige das empresas atenção redobrada. “As organizações precisam implementar planos de contenção, evitar sobrecarga, acúmulo de funções, estresse emocional e jornadas excessivas. A jornada exaustiva é o problema mais recorrente que vejo na vara do trabalho. Atendo caminhoneiros, profissionais do comércio e jornalistas em situações críticas”, relatou.
De acordo com Melek, os casos de doenças ocupacionais de natureza mental estão diretamente ligados a esses fatores. Para ele, ainda que o trabalhador tenha predisposição, cabe à empresa não agravar a condição por meio de práticas inadequadas. “É preciso pensar em prevenção. O RH tem papel fundamental nesse processo. A saúde mental precisa ser prioridade”, declarou.
O juiz chamou atenção para o impacto financeiro que esse cenário provoca no sistema previdenciário. “Em 2024, o prejuízo do INSS foi de R$ 30 bilhões. Só os afastamentos por doenças mentais representaram cerca de R$ 3 bilhões. Isso equivale, em média, a R$ 1.900 por mês por trabalhador afastado”, apontou. Segundo Melek, a nova NR 1 vai além da orientação normativa. Ela impõe um compromisso urgente com o bem-estar dos colaboradores. “Precisamos garantir jornadas decentes, combater o assédio moral, moderar a cobrança por metas e adotar práticas corretas na gestão de pessoas. A empresa tem o direito de aplicar penalidades, mas precisa fazê-lo de forma ética, sem constrangimento, sem gritos ou humilhações.”
Para Borges, a inclusão dos riscos psicossociais no normativo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) representou um avanço significativo na estrutura de prevenção e cuidado nas empresas. “Sempre foi necessário cuidar dos riscos psicossociais, mas nunca isso foi tão claramente exigido quanto agora. A norma entrou em vigor no dia 26 de maio, e embora as penalidades tenham sido postergadas, as exigências já estão em vigor.”
O médico realçou a importância de não esperar pela fiscalização para adotar medidas concretas. “Não devemos improvisar em assuntos sérios. Assim como não improvisamos ao decidir ter um filho ou ao cursar uma faculdade, também não podemos improvisar quando se trata da saúde mental e do bem-estar no trabalho.” Durante sua palestra, Borges defendeu que o ambiente corporativo precisa ser planejado para ser mais seguro, saudável e acolhedor. “O trabalho ocupa mais de 80% do nosso tempo útil enquanto estamos acordados. Por isso, o ambiente de trabalho deveria ser mais leve e equilibrado.”
Borges também explicou os aspectos teóricos e práticos dos riscos psicossociais, detalhando como essas condições se manifestam, são classificadas e avaliadas, especialmente no campo da perícia médica. “Existe subjetividade nesses casos, o que exige ainda mais preparo por parte das empresas e atenção da liderança.” Por fim, Borges deixou uma reflexão para os gestores presentes: “A grande pergunta que cada líder deve levar consigo é: o que posso fazer, a partir de agora, para tornar minha empresa um ambiente mais seguro e acolhedor para meus colaboradores?”, finalizou.
Para a coordenadora do Núcleo de Gestores de Pessoas, Carine Vanelli, o GGR representa a realização de mais uma edição de um sonho coletivo. “É ver esse evento se concretizando com tanto cuidado, comprometimento e com a entrega de todos os envolvidos. É muito emocionante. Cada detalhe foi pensado com um propósito, e ver tudo ganhando forma enche a gente de muito orgulho. A entrega foi maravilhosa.”
Carine enfatizou a importância de unir teoria e prática no contexto empresarial. “As empresas podem, e devem, buscar e levar conhecimento com credibilidade, não só teórico, mas também prático. Isso faz a diferença.”
“É isso que o GGR trouxe, fatos reais, dados concretos, conversas com pessoas reais sobre situações que, muitas vezes, parecem irreais. A gente precisa de pessoas. Precisamos entender a gestão das empresas para alcançar resultados. Caso contrário, não adianta continuar incluindo coisas, montando estruturas, implementando inovações, se não soubermos como avançar, como aplicar essas mudanças e, principalmente, como obter resultados concretos,” encerrou.
30/06 • 15h08